“Em que sentido se pode afirmar que a ciência é conhecimento empírico”


Durante muito tempo considerou-se a ciência como um tipo de conhecimento confiável por ser um conhecimento provado objetivamente, baseado naquilo que podemos ver, tocar, ouvir, etc. Ainda hoje esta é uma definição bastante aceita por muitas pessoas e que sugere que por meio da observação de  casos particulares podemos inferir uma proposição universal válida; a isso damos o nome de indução.
Porém analisando o método da indução podemos perceber alguns problemas do ponto de vista lógico. Já no século XVII David Hume definiu o “problema da indução” como circular, visto que se tentarmos justificá-lo dizendo que a partir da observação de vários As iguais a B podemos dizer que todo A é igual a B então o próprio argumento é indutivo e não pode resolver o problema da indução.
Outro argumento desfavorável à indução é a observação do quadrado de Aristóteles segundo o qual existem quatro tipos de afirmações que podem ser feitas sobre um mesmo sujeito e um mesmo predicado: elas podem ser universais e afirmativas(A), universais e negativas(E), particulares e afirmativas(I) ou  particulares e negativas(O). Do ponto de vista da lógica não se pode garantir a validade de uma proposição A por meio da observação de várias proposições I, por exemplo: não se pode dizer que todos os cisnes são brancos simplesmente porque todos os cisnes observados eram brancos, e se existir um cisne negro que não foi observado? Ou seja, a validade de várias proposições particulares não garante a validade da proposição universal.
Com isso podemos perceber que é problemático justificar o conhecimento por meio de dados empíricos. Mas será então que os dados empíricos não têm importância alguma na ciência?
Segundo Karl R. Popper, mesmo que os testes empíricos não possam dizer nada sobre a validade das proposições universais, eles podem levar à conclusão que uma teoria explanatória é falsa. Resumindo, o empirismo só pode dizer algo sobre a falseabilidade de uma teoria, ou seja, os testes empíricos são importantes porque são através deles que testamos as nossas teorias e podemos eliminar aquelas que estiverem em desacordo com a realidade. Mas isso não é uma solução definitiva para o problema da indução, pois, como sugeriu Lakatos, nem sempre um contra-fato que diga algo sobre a falsidade de um teorema ou lei é válido. Isso sem considerar que existem diferentes categorias de contra-fato, ou seja, existem contra-fatos que definitivamente acabam com uma teoria e outros que não. Um exemplo: a teoria de Einstein pode ser um contra-fato às Leis de Newton, mas por isso essas leis perderam a validade? As leis de Newton deixaram de ser usadas para descrever aquilo que observamos no dia-a-dia?
Ainda, se analisarmos o texto de Albert Einstein “Indução e dedução na física”, temos um outro ponto de vista sobre o papel dos experimentos na ciência. Segundo ele, grande parte do progresso da ciência surgiu de maneira totalmente oposta à indução. A compreensão intuitiva dos principais aspectos de um dado fenômeno leva à construção de teorias hipotéticas e da dedução (que, ao contrário da indução, é considerada logicamente correta) de suas conseqüências por meio, muitas vezes, de extensos cálculos e elaborações que podem ser comparadas com a experiência, fornecendo um critério para a validade da suposta lei.
Então, o que se pode inferir da relação entre a ciência e o conhecimento empírico, é que houve mudanças quanto ao entendimento de seus papéis, mas de qualquer forma, o conhecimento empírico nunca deixou de ser importante dentro da ciência, uma vez que não se pode negar que o conhecimento empírico sempre esteve presente nas nossas formas de entender o mundo.

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